Quinta-feira, 2 de maio de 2013.- José María Ordovás disse isso na semana passada na conferência inaugural da XVII Conferência Prática de Nutrição, realizada na Universidade Complutense de Madri: à medida que a ciência avança nos intrincados caminhos da nutrição e das doenças cardiovasculares, o labirinto fica um pouco mais complicado.
Existem muitas novidades que a ciência descobriu nesse campo nos últimos anos, mas também há questões cada vez mais desconhecidas que, a esse respeito, os especialistas precisam resolver.
Este teste de dupla face foi apresentado a você esta semana pelo The New England Journal of Medicine. Os dados de um de seus trabalhos contribuem com outro grão de areia para uma evidência relativamente recente: o papel que as bactérias que povoam nosso intestino desempenham na evolução de nosso organismo.
De acordo com este novo trabalho, liderado por WH Wilson Tang, do Departamento de Medicina Celular e Molecular da Clínica Cleveland (EUA), a microbiota é fundamental na produção de uma substância "inimiga" do coração.
Especificamente, essa equipe de pesquisadores verificou que a colina que atinge o intestino através da dieta (está presente em alimentos como fígado, ovos ou bacalhau salgado) torna-se 'por causa da' ação da bactérias intestinais, na trimetilamina, uma substância que é posteriormente transformada no fígado em óxido de trimetilamina (TMAO), cujo papel como aterosclerose foi demonstrado várias vezes.
A ação da flora bacteriana é essencial, como a pesquisa mostrou. Sem ele, a 'produção' de TMAO no corpo é interrompida.
Os cientistas realizaram seu estudo em duas fases. Primeiro, eles submeteram um grupo de 40 voluntários saudáveis a um experimento alimentar para "seguir a trilha" da colina uma vez no corpo. Assim, cada indivíduo teve que levar dois ovos cozidos ao lado de uma cápsula que continha um tipo de 'marcador' que mostrava o metabolismo da colina através de espectrometria de massa.
Os pesquisadores verificaram, através de análises de sangue e urina, a presença de TMAO após essas provocações alimentares, que foram realizadas, tanto com o intestino em condições normais, quanto após submeter os voluntários a antibioticoterapia intensiva que Eles destruíram sua flora intestinal.
As análises deixaram claro que o TMAO tóxico só aparecia quando a flora bacteriana estava presente. Embora a ação dos antibióticos tenha sido notável, o metabolito não apareceu.
Em uma segunda fase, os pesquisadores queriam verificar a relação entre a presença de altos níveis plasmáticos de TMAO e o aparecimento de um sério problema cardiovascular no médio prazo.
Para fazer isso, eles acompanharam mais de 4.000 participantes que foram submetidos a uma angiografia (um estudo do estado de seus vasos sanguíneos), embora não mostrassem sinais de sofrer de uma síndrome coronariana aguda. O estudo de seus casos ao longo de três anos mostrou que aqueles que tinham níveis mais altos de TMAO também estavam em maior risco de sofrer um derrame ou um ataque cardíaco, como suspeitavam os pesquisadores.
Em seu trabalho, esses cientistas reconhecem que seu trabalho abre novas e importantes formas de pesquisa, como conhecer a utilidade de restringir os níveis de colina na dieta ou descobrir se uma 'terapia antimicrobiana' pode ser usada para reduzir significativamente o risco cardiovascular, embora muitos estudos sejam necessários para chegar a uma conclusão clara.
Enrique Galve, presidente da seção de Risco Vascular e Reabilitação Cardíaca da Sociedade Espanhola de Cardiologia (SEC), concorda com seu ponto de vista. "É um tópico muito interessante e a pesquisa é muito bem feita, mas a verdade é que ainda estamos muito longe dessa produção de evidências científicas que podem ser aplicadas diariamente", diz o especialista.
"Ainda não se sabe quais são as bactérias responsáveis por isso, ou como podemos nos livrar delas, porque a eliminação de toda a microbiota não é uma opção, por isso devemos aguardar o resultado de novas pesquisas", continua Galve, que acredita que "Haverá muitas hipóteses que surgirão através deste trabalho".
Por outro lado, o cardiologista acredita que, embora úteis, estudos desse tipo servem como incentivo para a indústria alimentícia funcional, que os utiliza como suporte para suas próprias propostas. "A verdade é que, hoje, a maioria desses produtos é apoiada por um suporte científico extremamente limitado", conclui.
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Existem muitas novidades que a ciência descobriu nesse campo nos últimos anos, mas também há questões cada vez mais desconhecidas que, a esse respeito, os especialistas precisam resolver.
Este teste de dupla face foi apresentado a você esta semana pelo The New England Journal of Medicine. Os dados de um de seus trabalhos contribuem com outro grão de areia para uma evidência relativamente recente: o papel que as bactérias que povoam nosso intestino desempenham na evolução de nosso organismo.
De acordo com este novo trabalho, liderado por WH Wilson Tang, do Departamento de Medicina Celular e Molecular da Clínica Cleveland (EUA), a microbiota é fundamental na produção de uma substância "inimiga" do coração.
Especificamente, essa equipe de pesquisadores verificou que a colina que atinge o intestino através da dieta (está presente em alimentos como fígado, ovos ou bacalhau salgado) torna-se 'por causa da' ação da bactérias intestinais, na trimetilamina, uma substância que é posteriormente transformada no fígado em óxido de trimetilamina (TMAO), cujo papel como aterosclerose foi demonstrado várias vezes.
A ação da flora bacteriana é essencial, como a pesquisa mostrou. Sem ele, a 'produção' de TMAO no corpo é interrompida.
A investigação
Os cientistas realizaram seu estudo em duas fases. Primeiro, eles submeteram um grupo de 40 voluntários saudáveis a um experimento alimentar para "seguir a trilha" da colina uma vez no corpo. Assim, cada indivíduo teve que levar dois ovos cozidos ao lado de uma cápsula que continha um tipo de 'marcador' que mostrava o metabolismo da colina através de espectrometria de massa.
Os pesquisadores verificaram, através de análises de sangue e urina, a presença de TMAO após essas provocações alimentares, que foram realizadas, tanto com o intestino em condições normais, quanto após submeter os voluntários a antibioticoterapia intensiva que Eles destruíram sua flora intestinal.
As análises deixaram claro que o TMAO tóxico só aparecia quando a flora bacteriana estava presente. Embora a ação dos antibióticos tenha sido notável, o metabolito não apareceu.
Em uma segunda fase, os pesquisadores queriam verificar a relação entre a presença de altos níveis plasmáticos de TMAO e o aparecimento de um sério problema cardiovascular no médio prazo.
Para fazer isso, eles acompanharam mais de 4.000 participantes que foram submetidos a uma angiografia (um estudo do estado de seus vasos sanguíneos), embora não mostrassem sinais de sofrer de uma síndrome coronariana aguda. O estudo de seus casos ao longo de três anos mostrou que aqueles que tinham níveis mais altos de TMAO também estavam em maior risco de sofrer um derrame ou um ataque cardíaco, como suspeitavam os pesquisadores.
Em seu trabalho, esses cientistas reconhecem que seu trabalho abre novas e importantes formas de pesquisa, como conhecer a utilidade de restringir os níveis de colina na dieta ou descobrir se uma 'terapia antimicrobiana' pode ser usada para reduzir significativamente o risco cardiovascular, embora muitos estudos sejam necessários para chegar a uma conclusão clara.
Enrique Galve, presidente da seção de Risco Vascular e Reabilitação Cardíaca da Sociedade Espanhola de Cardiologia (SEC), concorda com seu ponto de vista. "É um tópico muito interessante e a pesquisa é muito bem feita, mas a verdade é que ainda estamos muito longe dessa produção de evidências científicas que podem ser aplicadas diariamente", diz o especialista.
"Ainda não se sabe quais são as bactérias responsáveis por isso, ou como podemos nos livrar delas, porque a eliminação de toda a microbiota não é uma opção, por isso devemos aguardar o resultado de novas pesquisas", continua Galve, que acredita que "Haverá muitas hipóteses que surgirão através deste trabalho".
Por outro lado, o cardiologista acredita que, embora úteis, estudos desse tipo servem como incentivo para a indústria alimentícia funcional, que os utiliza como suporte para suas próprias propostas. "A verdade é que, hoje, a maioria desses produtos é apoiada por um suporte científico extremamente limitado", conclui.
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