Segunda-feira, 29 de abril de 2013.- Não importa se você é homem ou mulher. Se você mora na América Latina, tem 60% mais chances de morrer de câncer do que se o fizer nos Estados Unidos ou na Europa.
Isso se deve principalmente às desigualdades econômicas, à falta de políticas e campanhas de prevenção e aos hábitos alimentares e de saúde que a região está adotando.
Um grupo de especialistas alerta que essa combinação de fatores pode levar a região a cair em uma "epidemia devastadora" de câncer se medidas urgentes não forem tomadas.
Segundo o relatório, publicado sexta-feira no The Lancet Oncology, para cada 100.000 habitantes, existem 163 casos de câncer. Um número muito menor do que o registrado nos EUA ou Europa Mas o problema é que a taxa de mortalidade é quase o dobro da proporção nesses países desenvolvidos.
Os pesquisadores estimam que, se algo não for feito em breve, até 2030, haverá 1, 7 milhão de casos de câncer diagnosticados e que um milhão de pessoas morrerão por ano de alguma forma desta doença.
"O que descobrimos é que, embora muitos países estejam tomando a direção certa na implementação de políticas que permitem que mais pessoas tenham acesso aos cuidados de saúde, quando olhamos para o campo, no orçamento para controle e atendimento" de câncer, percebemos que é muito pouco ", disse Paul Goss, oncologista e professor da Harvard Medical School, à BBC World.
Por seu lado, Andreas Ullrich, da Organização Mundial da Saúde, disse à BBC Mundo que os dados do relatório são muito semelhantes aos que vêm dizendo há anos. "A mortalidade aumenta devido a alterações demográficas e ao aumento de comportamentos de risco, como aumento do consumo de tabaco, aumento da obesidade e inatividade física".
No entanto, Ullrich prefere não falar em "epidemia", mas em um aumento constante da doença na região.
Segundo o relatório, 54% da população latino-americana tem muito pouco acesso ou nenhum acesso a cuidados de saúde.
"Também descobrimos que há muita diferença entre o que está acontecendo e o que os legisladores esperam que aconteça", acrescentou. "Para a maioria da população, a implementação não é de forma alguma satisfatória."
Por exemplo, no Brasil, 70% do dinheiro destinado aos cuidados e controle do câncer são destinados a 20% da população.
Goss disse que o que mais o impressionou é que, no que diz respeito à assistência médica, existem duas na América Latina: uma elite com acesso aos mais recentes avanços da medicina, neste caso prevenção, tratamento e cuidados paliativos do câncer, e a outra a grande maioria que é assistida apenas na fase terminal da doença.
"Existem excelentes hospitais em São Paulo, na Cidade do México e em muitas das principais cidades da região, mas é uma grande parte da população que depende de um sistema nacional de saúde", que na opinião do especialista não prioriza a prevenção e tratamento de câncer
Quando se trata do orçamento alocado nas políticas de saúde, em relação ao PIB, a região aloca muito menos do que os Estados Unidos ou o Canadá.
Goss, que também é chefe do estudo, relatou que no ano passado os EUA Ele contribuiu com seu PIB para o controle do câncer de cada paciente oito vezes maior do que qualquer país da América Latina.
"Acho que o problema na América Latina é que a abordagem para o controle do câncer não é a mais sábia. Muito pouco dinheiro é alocado e a distribuição de recursos não é a mesma para toda a população", acrescentou.
O especialista alertou que grande parte do dinheiro investido no tratamento do câncer está sendo usada na hospitalização de pacientes terminais, que é o mais caro da doença. "O que deixa pouco dinheiro para prevenção."
Goss acrescenta que a idéia não é deixar de lado os pacientes terminais, mas criar clínicas e treinar funcionários para prestar essa assistência durante a fase final da doença nos lares. Isso, a longo prazo, não significaria apenas uma redução de despesas, já que a hospitalização é a mais cara, mas proporcionaria um ambiente melhor para os pacientes ficarem próximos aos seus entes queridos.
Uma das principais razões para o aumento sustentado da mortalidade por câncer é o diagnóstico tardio de tipos desta doença que são curáveis.
A esse respeito, Dra. Felicia Knaul, professora da Faculdade de Medicina de Harvard que foi diagnosticada com câncer de mama no México há seis anos e administra uma ONG naquele país para aumentar a conscientização sobre a doença, alerta que se algo não for feito logo, "a imagem pode ser apocalíptica".
"Para se ter uma idéia, hoje, se o câncer de mama for diagnosticado a tempo, 70% a 90% das mulheres provavelmente sobreviverão. Na região, a doença é diagnosticada tarde demais, o que significa chances de sobreviver até 25% ", disse ele à BBC Mundo.
"90% dos casos de crianças com leucemia podem ser curados se detectados precocemente. Nos países pobres, essa tendência é revertida", acrescentou.
Um dos fatores mais importantes para os quais o diagnóstico é tardio na região deve-se, segundo o relatório, à falta de acesso à saúde das populações indígenas e rurais.
"É um problema exacerbado pelo escasso e muito pouco investimento eqüitativo", diz o estudo.
Os especialistas consultados pela BBC Mundo concordam que outro fator que agrava a situação na região é o envelhecimento da população. Estima-se que, até 2020, mais de 100 milhões de pessoas tenham mais de 60 anos. A partir desta idade é que há mais incidência de câncer.
Se a isso se acrescenta a adoção de hábitos nos países desenvolvidos - mais consumo de fast food com alto teor calórico, menos exercícios e estilo de vida mais sedentário - os especialistas prevêem um aumento nos pacientes com câncer.
A obesidade está relacionada ao câncer de mama, enquanto o tabaco ao câncer de pulmão, entre outros.
Mas nem tudo é negativo. A região está adotando cada vez mais medidas para reverter essa tendência com campanhas contra o tabaco em espaços públicos e imunização contra o Papilomavírus Humano, que causa câncer de colo do útero, e hepatite, que causa câncer de fígado.
"Mas o que queremos é que essas iniciativas de prevenção se expandam", disse Goss.
Por exemplo, a OMS recomenda citologias ginecológicas regulares para descartar o câncer do colo do útero.
Em geral, a comissão que elaborou o relatório insiste na necessidade de atacar esses problemas, porque, caso contrário, "apenas piorará".
"(Se nada for feito) em 20 anos será absolutamente horrível e ameaça a economia dos países e da sociedade. Os casos de câncer sangram a economia", alertou Goss.
Felicia Knaul, por sua vez, alerta que, enquanto o câncer é uma doença dos pobres e ricos hoje, no futuro - se nada for feito - será uma doença dos pobres.
No entanto, o Dr. Knaul está otimista. "Se estamos vendo opções na região. Colômbia, Peru, República Dominicana, Brasil e Costa Rica têm sistemas muito inclusivos e existem iniciativas de geminação na América Central".
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Isso se deve principalmente às desigualdades econômicas, à falta de políticas e campanhas de prevenção e aos hábitos alimentares e de saúde que a região está adotando.
Um grupo de especialistas alerta que essa combinação de fatores pode levar a região a cair em uma "epidemia devastadora" de câncer se medidas urgentes não forem tomadas.
Segundo o relatório, publicado sexta-feira no The Lancet Oncology, para cada 100.000 habitantes, existem 163 casos de câncer. Um número muito menor do que o registrado nos EUA ou Europa Mas o problema é que a taxa de mortalidade é quase o dobro da proporção nesses países desenvolvidos.
Os pesquisadores estimam que, se algo não for feito em breve, até 2030, haverá 1, 7 milhão de casos de câncer diagnosticados e que um milhão de pessoas morrerão por ano de alguma forma desta doença.
"O que descobrimos é que, embora muitos países estejam tomando a direção certa na implementação de políticas que permitem que mais pessoas tenham acesso aos cuidados de saúde, quando olhamos para o campo, no orçamento para controle e atendimento" de câncer, percebemos que é muito pouco ", disse Paul Goss, oncologista e professor da Harvard Medical School, à BBC World.
Por seu lado, Andreas Ullrich, da Organização Mundial da Saúde, disse à BBC Mundo que os dados do relatório são muito semelhantes aos que vêm dizendo há anos. "A mortalidade aumenta devido a alterações demográficas e ao aumento de comportamentos de risco, como aumento do consumo de tabaco, aumento da obesidade e inatividade física".
No entanto, Ullrich prefere não falar em "epidemia", mas em um aumento constante da doença na região.
Desigualdade
Segundo o relatório, 54% da população latino-americana tem muito pouco acesso ou nenhum acesso a cuidados de saúde.
"Também descobrimos que há muita diferença entre o que está acontecendo e o que os legisladores esperam que aconteça", acrescentou. "Para a maioria da população, a implementação não é de forma alguma satisfatória."
Por exemplo, no Brasil, 70% do dinheiro destinado aos cuidados e controle do câncer são destinados a 20% da população.
Goss disse que o que mais o impressionou é que, no que diz respeito à assistência médica, existem duas na América Latina: uma elite com acesso aos mais recentes avanços da medicina, neste caso prevenção, tratamento e cuidados paliativos do câncer, e a outra a grande maioria que é assistida apenas na fase terminal da doença.
"Existem excelentes hospitais em São Paulo, na Cidade do México e em muitas das principais cidades da região, mas é uma grande parte da população que depende de um sistema nacional de saúde", que na opinião do especialista não prioriza a prevenção e tratamento de câncer
Quando se trata do orçamento alocado nas políticas de saúde, em relação ao PIB, a região aloca muito menos do que os Estados Unidos ou o Canadá.
Goss, que também é chefe do estudo, relatou que no ano passado os EUA Ele contribuiu com seu PIB para o controle do câncer de cada paciente oito vezes maior do que qualquer país da América Latina.
"Acho que o problema na América Latina é que a abordagem para o controle do câncer não é a mais sábia. Muito pouco dinheiro é alocado e a distribuição de recursos não é a mesma para toda a população", acrescentou.
O especialista alertou que grande parte do dinheiro investido no tratamento do câncer está sendo usada na hospitalização de pacientes terminais, que é o mais caro da doença. "O que deixa pouco dinheiro para prevenção."
Goss acrescenta que a idéia não é deixar de lado os pacientes terminais, mas criar clínicas e treinar funcionários para prestar essa assistência durante a fase final da doença nos lares. Isso, a longo prazo, não significaria apenas uma redução de despesas, já que a hospitalização é a mais cara, mas proporcionaria um ambiente melhor para os pacientes ficarem próximos aos seus entes queridos.
Diagnóstico
Uma das principais razões para o aumento sustentado da mortalidade por câncer é o diagnóstico tardio de tipos desta doença que são curáveis.
A esse respeito, Dra. Felicia Knaul, professora da Faculdade de Medicina de Harvard que foi diagnosticada com câncer de mama no México há seis anos e administra uma ONG naquele país para aumentar a conscientização sobre a doença, alerta que se algo não for feito logo, "a imagem pode ser apocalíptica".
"Para se ter uma idéia, hoje, se o câncer de mama for diagnosticado a tempo, 70% a 90% das mulheres provavelmente sobreviverão. Na região, a doença é diagnosticada tarde demais, o que significa chances de sobreviver até 25% ", disse ele à BBC Mundo.
"90% dos casos de crianças com leucemia podem ser curados se detectados precocemente. Nos países pobres, essa tendência é revertida", acrescentou.
Um dos fatores mais importantes para os quais o diagnóstico é tardio na região deve-se, segundo o relatório, à falta de acesso à saúde das populações indígenas e rurais.
"É um problema exacerbado pelo escasso e muito pouco investimento eqüitativo", diz o estudo.
Idade e hábitos
Os especialistas consultados pela BBC Mundo concordam que outro fator que agrava a situação na região é o envelhecimento da população. Estima-se que, até 2020, mais de 100 milhões de pessoas tenham mais de 60 anos. A partir desta idade é que há mais incidência de câncer.
Se a isso se acrescenta a adoção de hábitos nos países desenvolvidos - mais consumo de fast food com alto teor calórico, menos exercícios e estilo de vida mais sedentário - os especialistas prevêem um aumento nos pacientes com câncer.
A obesidade está relacionada ao câncer de mama, enquanto o tabaco ao câncer de pulmão, entre outros.
Mas nem tudo é negativo. A região está adotando cada vez mais medidas para reverter essa tendência com campanhas contra o tabaco em espaços públicos e imunização contra o Papilomavírus Humano, que causa câncer de colo do útero, e hepatite, que causa câncer de fígado.
"Mas o que queremos é que essas iniciativas de prevenção se expandam", disse Goss.
Por exemplo, a OMS recomenda citologias ginecológicas regulares para descartar o câncer do colo do útero.
Em geral, a comissão que elaborou o relatório insiste na necessidade de atacar esses problemas, porque, caso contrário, "apenas piorará".
"(Se nada for feito) em 20 anos será absolutamente horrível e ameaça a economia dos países e da sociedade. Os casos de câncer sangram a economia", alertou Goss.
Felicia Knaul, por sua vez, alerta que, enquanto o câncer é uma doença dos pobres e ricos hoje, no futuro - se nada for feito - será uma doença dos pobres.
No entanto, o Dr. Knaul está otimista. "Se estamos vendo opções na região. Colômbia, Peru, República Dominicana, Brasil e Costa Rica têm sistemas muito inclusivos e existem iniciativas de geminação na América Central".
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